APOLINÁRIO É ENTREVISTADO SOBRE O SERTANEJO UNIVERSITÁRIO
Entrevista de Eurípedes Apolinário para estudante de jornalismo Gabriel S.Pereira
1- COMO E QUANDO COMEÇOU A LIDAR COM A MÚSICA SERTANEJA?
Eu nasci na fazenda e a minha meninice foi no meio de lavradores, camponeses, peões de boiadeiros, violeiros, sanfoneiros e cantores de modas de viola, reis, moçambiques, congadas, festas juninas, contadores de causos, rezadores de terços, pescadores, catiras, cantigas de roda, escolinhas mistas, etc.
2- COMO SE DEU O PROCESSO DE EVOLUÇÃO DA MÚSICA SERTANEJA?
A música sertaneja era totalmente autêntica, ela vinha diretamente da roça para a cidade. Com a evolução da música, houve a integração de influências mexicanas, paraguaias, e depois o country.
3-COMO VOCÊ VÊ ESSA EVOLUÇÃO?
A evolução foi boa, não podemos parar no tempo. Mas temos que fazer música que leve mensagem com a realidade brasileira sem deixar nos influenciar só pelo que vem de fora.
4- DE QUE MANEIRA ESSE SERTANEJO UNIVERSITÁRIO SE DIFERE DO SERTANEJO TRADICIONAL?
Em não usarem chapéu e botas e em unirem temas caipiras, tambores de axé e guitarras estridentes. Mas sempre pegando os grandes sucessos do sertanejo tradicional e regravando nessa nova roupagem; frequentemente gravam seus CDs ao vivo. Muitas duplas sem talento têm surgido, com grande investimento financeiro no lançamento de músicas pornográficas.
5-QUAL A SUA VISÃO DO SERTANEJO UNIVERSITÁRIO?
A música sertaneja sempre foi universal e é perigoso tentar agradar somente um público. É um tanto arriscado para a dupla que se rotula como sertanejo universitário, tendo em vista que o público fica muito restrito.
Veja, Forró Universitário, Samba Universitário, Sertanejo Universitário... a tendência é desaparecer, como passou a fase do Forró universitário, é tudo temporário. Inclusive duplas que estavam enquadradas no sertanejo universitário agora estão declarando não serem universitárias, justamente para não ter a limitação de um público, que são aqueles jovens entre 18 e 23 anos, que estão ingressando na faculdade. Este público curte hoje uma onda, amanhã já estão em outra, não são fieis. O melhor é atingir a todos.
O sertanejo universitário não é um estilo à parte, eles são diferentes, mas tem a mesma origem do sertanejo tradicional. Ainda vão aparecer muitos batizados para a música sertaneja, isso porque a música sertaneja é muito forte – porque não tirar proveito de algumas características dela, nem que seja na instrumentação? Já temos hoje bandas que se intitulam “Nova Onda Caipira” por aderirem à viola, como também o “Matuto Moderno”, o “Rock Caipira. etc...
6- COMO VOCÊ VÊ ESSA RELATIVA MUDANÇA DE PÚBLICO DO SERTANEJO? ( ANTES ERA UMA COISA DE ROÇA E HOJE É UMA COISA MAIS BURGUESA)
A gravação das modas caipiras em disco e a sua apresentação em
rádio representaram sua primeira mudança. A música passou a atender a interesses comerciais. Objetivando uma maior vendagem de discos, foram introduzidos outros ritmos e instrumentos na música caipira, que teve a influência de músicas paraguaias, uruguaias e mexicanas, como as guarânias, rancheiras e corridos. Deu-se a transformação da música caipira em sertaneja, através de duplas como Milionário e José Rico, Trio Parada Dura, Duduca e Dalvan etc. Essa mistura fez com que a música passasse por uma mudança, atingindo também outros públicos, cada vez mais elitizados.
7- COMO VOCÊ VÊ A INSERÇÃO DOS JOVENS NO SERTANEJO?
Benéfica e necessária. Eu, na minha carreira, sempre abro espaço para os jovens no meu programa e no meu show. Criei o Festival Sertanejo Brotos da Raiz especificamente para receber estes jovens sertanejos.
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